(...) O amor cortês, como bem afirma Natália Correia, “insere-se num complexo ideológico que determina a Renascença e a Reforma, surgindo como a síntese encontrada pelo homem pré-renascentista para se furtar a um poder desfigurante de sua individualidade.” (CORREIA, 1978, P. 24) Isto porque a divisão em corpo e alma impossibilita ao ser atingir a sua síntese, a plenitude de sua identificação, tornando-o mais suscetível de pressões externas. Uma vez reintegrada essa plenitude, “vive em regime de androginato, de unificação, e não teme enfrentar a autoridade paterna do deus, assim como o estatuto terreno que a reflete”.(CORREIA, 1978, P.24) Por tudo isso, deve-se reconhecer que o amor trovadoresco não promove um ajuste entre a realidade e o conceito de amor. De certa forma, porém, torna-se um conceito que busca operar sobre essa realidade, transformando-a sobretudo a partir da valorização do princípio feminino, da posição de destaque que confere à mulher. Na verdade, a submissa posição feminina converte-se em fonte de inspiração do amor capaz de reintegrar a personalidade do homem perante a autoridade que o descaracteriza. Daí o caráter revolucionário do amor cortês, uma “invenção” que surgiu e desapareceu durante a idade média, mas cujos ecos podemos perceber em toda a literatura posterior, até os nossos dias.

Letras em foco. Anais da II Semana de Letras e da VI Semana de Lingüística e Filologia. Tomo II: Literatura. São Gonçalo: DEL(UERJ) / CiFEFiL, 2000.

Link: http://www.filologia.org.br/pub_outras/sliit02/sliit02_93-98.html
(Acesso em 14/04/2011)

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